CARLOS LOPES - Do Metal ao Samba
Tablatura nova pessoal.
Carlos Lopes, integrante da banda de thrash metal Dorsal Atlântica, é conhecido por seu uso inovador da guitarra baiana fabricada por Fábio Batanj, mesmo em um estilo pesado como o thrash metal. Sua habilidade em integrar o instrumento ao som intenso da banda é impressionante e destaca a versatilidade da guitarra baiana. Em um vídeo recente, Lopes demonstra ainda mais seu ecletismo ao interpretar "Você Passa, Eu Acho Graça", uma clássica composição de Ataulfo Alves e Carlos Imperial, com sua guitarra baiana. A performance não só revela a adaptabilidade do instrumento em diferentes contextos musicais, como também ressalta como ele pode enriquecer e transformar o som em gêneros variados. A combinação da riqueza sonora da guitarra baiana com a leveza do samba e a intensidade do thrash metal ilustra a profunda versatilidade e o impacto que esse instrumento pode ter em uma ampla gama de estilos musicais.
Segurem essa Pedrada!
Líder da Dorsal, ele foi um dos precursores do metal no Brasil. Comunista-espírita, deglutiu diversos ritmos, do baião aos afros, sem capitular ao mercado. Alfineta os músicos reaças e caretas e propõe: é a vez da Música Pesada Brasileira.
Sua experiência como frontman, bandleader, compositor, músico, ilustrador, produtor, radialista e empresário de si mesmo vêm desde 1981, quando a banda Dorsal Atlântica foi criada – ainda com o nome Ness. Para quem não conhece, este grupo abriu o caminho do metal no Brasil e influenciou gerações de outras bandas, como a internacional Sepultura. Como são muitas as histórias, os desafetos, as decepções, as injustiças, mas sobretudo, as reviravoltas na vida desse lendário roqueiro e sua banda, resolvemos inverter a cronologia e começar falando sobre suas ações mais recentes para depois dar uma geral em sua história de vida.
E já polemizando logo de cara, ele diz que “as bandas que estão apoiando os ditos cujos são todas de São Paulo, ou seja, é uma questão ideológica e financeira mesmo. Esse povo sempre foi conservador, e conseguiu estragar o que restava de dignidade no termo tradição. Foi igual à usurpação que houve – e há – em relação a vestir a camiseta verde e amarela. Eu tenho vergonha, mas quero recuperar a dignidade da camiseta, quero ter orgulho desde que não olhem para mim e vejam um bolsominion e que ela nunca mais esteja só associada a reaças, assim como ocorreu com o rock, pois tudo que se repete é conservador, seja punk, thrash, heavy metal, old school, etc”.
Longe dos palcos desde a década de 2000, mas sempre presente nas vidas dos abnegados fãs, a Dorsal lançou Pandemia, o seu trabalho mais recente em 2021. A fonte? Financiamento coletivo. E essa é a quinta criação do artista lançada dessa forma. O CD de retorno, em 2012, talvez tenha sido o primeiro disco de uma banda de rock brasileira com esse tipo de financiamento. Dorsal Atlântica, que comemora 40 anos de existência em 2021, é algo a se considerar quando se busca refletir sobre a cena do rock no Brasil, especialmente sobre o que se tornou o rock enquanto expressão artística nos tempos atuais. Tanto é que o SESC, em 2021, fez um apanhado de obras que não atingiram o mainstream, mas que têm a sua importância histórica. O álbum “Antes Do Fim”, primeiro solo e segundo na carreira da banda, está entre eles.
Carlos conta que, por intermédio de uma vizinha, especializada em captação de recursos, conheceu o financiamento coletivo e foi assim, por conta desta inquietude, que ele encontrou uma forma de reativar a Dorsal Atlântica, que estava fora da cena desde 2001. Com uma campanha mais do que vencedora, o CD intitulado 2012 foi lançado com a formação responsável pelos discos “Antes Do Fim”, “Dividir e Conquistar” e “Searching For The Light” e também envolveu o lançamento da nova edição do livro “Guerrilha – a história da Dorsal Atlântica”. Temas como Euclides da Cunha, Canudos, educação, pobreza, racismo e ditadura rechearam o novo trabalho, que reacendeu a alegria em muitos e também algumas críticas. Houve quem dissesse que Carlos estava agindo de má-fé ao lançar uma campanha de financiamento coletivo, já que tinha posses suficientes para lançar o projeto, o que não era verdade. Mais do mesmo…
Após este lançamento, a antiga gravadora da banda, o selo carioca Heavy Records os contratou para lançar o trabalho seguinte, “Imperium”, em 2014, ainda com a mesma formação. Em 2017, pelo mesmo recurso de financiamento coletivo, Carlos lança “Canudos”, em um momento conturbado de sua vida pessoal, que o levou a se mudar para Brasília/DF. Em 2020, Carlos teve a ideia de lançar mais uma campanha com um tema mais do que atual: a pandemia. Projeto bem-sucedido, Carlos arrecadou 20% a mais do valor inicialmente proposto. Um fato curioso sobre a ópera “Pandemia” é que ela é a concretização de um projeto anterior de 2009, envolvendo história do Brasil e música para crianças, que não havia sido viabilizado por questões de financiamento a partir de editais.
“Pandemia” foi lançado no começo de 2021; uma alegoria do que acontece atualmente, uma pandemia de burrice e intolerância que assola um país chamado Brazilândia. Faixas como “Burro”, “Cães” e “Gorilas (No Passarán)” dão o tom do caos da atualidade. Um fato curioso é a roupagem diferente deste novo trabalho, assim como os demais lançados a partir de 2012. Carlos não mantém o padrão de antigamente, incorpora elementos diferentes, muda o timbre da voz. Ele, aliás, fez questão de utilizar elementos diversos da cultura brasileira, afro do candomblé, música armorial, baião, entre outros: “99% do que se produz de metal no mundo, inclusive no Brasil, é desconectado da realidade. É infantil e superficial. O metal se tornou, de fato, uma música burguesa, colonizada, tudo de mal e pior. Então, hoje, para não ser frontalmente um combatente daquilo que eu ajudei a construir, eu posso muito bem, no papel que eu tenho, ajudar a desconstruir. E qual foi a decisão? Decidi reescrever a música para que se torne mais brasileira ainda”. Continua a ser um risco calculado, mas agora ele não precisa mais se preocupar com aquilo que se interpunha entre a Dorsal e os fãs. Ele diz que é um trabalho de desconstrução daquilo que ele ajudou a construir (no que se refere ao movimento metal). A ideia de Carlos é, no mínimo, intrigante. Diz ele que, no futuro, o metal pesado brasileiro não mais existirá e sim a MPB (Música Pesada Brasileira), devido ao processo natural de transformação.
Para matéria completa: https://outraspalavras.net/poeticas/a-voz-rebelde-e-acida-do-metaleiro-carlos-lopes/
A Guitarra Baiana do Carlos Lopes
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