Papo de Artista com Júlio Caldas
O Portal Guitabaiana.com tem a honra de bater um papo com um dos mais engajados produtores culturais do país...Sim, poderíamos nos referir a este talentoso artista como "produtor musical", mas é pouco, ele vai muito, mas muito além disso, com vocês, o multi instrumentista, Júlio Caldas:
Nascido em Ipiaú-BA, em uma família de músicos, Júlio Caldas é autodidata. Começou a estudar violão e atualmente toca diversos instrumentos, especialmente guitarra, bandolim/guitarra baiana e viola caipira, e vem se dedicando à pesquisa dos instrumentos populares de cordas.
Julio Caldas e Eduardo Brandão - Santa Morena
É produtor do Circuito Guitarra Baiana, da Mostra de Guitarra Baiana e do Trio de Guitarra Baiana, realizados desde 2009. Premiado com o Troféu Dodô e Osmar como melhor instrumentista de guitarra baiana, em 2015 e indicado ao Troféu Caymmi como artista revelação. Por duas vezes foi finalista do Festival de Música Educadora FM com suas composições para o grupo Viola de Arame. Produziu o álbum Abre Caminho, de Mariene de Castro, que ganhou o Prêmio TIM de Música, (2005), na categoria Melhor Disco Regional, o álbum Lua Bonita, de Socorro Lira, vencedor do Prêmio de Música Brasileira (2012), também na categoria Música Regional e, também, o álbum Terreiros, de Roque Ferreira, indicado ao mesmo prêmio, na categoria Samba (2016), dentre outros.
Em 2008, Júlio lançou seu primeiro CD Solo, intitulado Pitecantropus Erectus, seguido dos CDs Café com Blues – Tipo Exportação (2007), Julio Caldas Quarteto – Choro Rock (2007), Viola de Arame (2011), Julio Caldas & Choro Rock – Circuito Guitarra Baiana (2010) e Blues, Baiões e Psicodelia (2015). A notoriedade do seu trabalho foi destacada durante as apresentações em eventos importantes, como o Percpan, Ano Brasil na França (FR), Mercado Cultural (BA), Festival de Jazz e Blues de Guaramiranga (CE), Festival da Musica Instrumental do BNB (CE/PB), Festival de Musica Instrumental da Bahia (BA), Festival de Inverno de Igatu (BA), Festival de Inverno (Vitoria da Conquista), Festival de Lençóis, Projeto Pixinguinha (BA, SE, PE, CE) entre outros.
Trio de Guitarra Baiana 2019 - Renatinho, Julio Caldas e Márcio de Oliveira
ENTREVISTA
Com que idade começou a se interessar por música?
Com 13 anos, com 16 iniciei os estudos, tenho 40.
Qual a sua lembrança musical marcante mais antiga?
Aprendendo os primeiros acordes, no auge do Guns and Roses no Brasil, aprendi alguma riff deles
E a guitarra baiana? Quando você começou a tocar? Influenciado por quem?
Iniciei meus estudos na GB, faz uns 12 anos, inicialmente inspirado por Luiz Caldas, na época que tocava baixo na banda dele. Mas inspiração maior era Jean Paul Charles, tocando Jazz no projeto JAM no MAM, o ambiente do trio elétrico e carnaval nunca fizeram minha cabeça. Sendo pra mim unicamente um momento de fazer cachês melhores.
Jean Paul Charles
Qual a primeira música que você tirou?
A primeira música que toquei no bandolim, foi uma composição, Valsa nº1, está no disco do Viola de Arame, um trabalho que tive de viola caipira. Utilizei uma estratégia meio azeda pra maioria, passei 5 anos, só estudando, acordes, escalas e arpejos, para não ficar sem tocar nada, compus esse tema...
Liste aqui suas 5 músicas preferidas de tocar na GB.
Não tenho músicas preferidas, posso citar algumas que gosto;
1 - Desvairada – Garoto
2 - 1x 0 – Pixinguinha
3 - Um sarau para Raphael – Paulinho da Viola
4 – Tenebroso – Ernesto Nazareth
5 - O voo da mosca – Jacob do Bandolim
Fale um pouco do seu set atual…
Tenho muitos pedais, mas uso para produzir, entre minhas atividades musicais, uma dela é a produção de discos, gosto demais para produzir. Para shows não gosto de muita coisa, um drive e um wha wha e já tô feliz. Atualmente faço muitos shows que não uso nada, só um amp. Estou utilizando um Borne (Classic t) de 7 wats e uma réplica de um Bassman da Fender – 40wats.
Como você vê a cena da GB hoje e qual seria o seu cenário ideal?
Vejo um momento bom e sempre digo ser o melhor. Hoje, podemos ser nós mesmo, sem ter que tocar isso ou aqui para ser GBista.
O cenário ideal é pra mim é aquele onde, o público compareça nos shows e pague, o poder público contemple os artistas, os espaços recebam os projetos, enfim, que a cultura seja valorizada. Mas hoje, já acho tudo isso utopia.
De maneira geral, como está a estrutura para quem trabalha com a GB, com relação a estúdios, casas de show, contratantes e espaço cedido?
Acho que a resposta anterior responde, falta tudo... Estúdios tem, casas de shows são poucas, contratantes não existem, poucos espaços são cedidos ou se quer existem. O movimento GBista ainda é para seus amantes.
Você acha que tem uma estética que ainda define o a Guitarra Baiana ou é um rótulo que já não serve tanto?
Acho que os frevos e o choro ainda definem o som da GB, porém, isso vem se quebrando, isso é muito bom e necessário. Durante muito tempo me dediquei a esses gêneros, hoje meu foco é ser eu mesmo, o que sou? Um guitarrista de Blues.
De repente um blues Mostra de Guitarra Baiana - V
Percebe-se uma inversão de valores no carnaval baiano, no qual o mercado sobrepõe a cultura, cada vez mais o Mainstream toma o espaço dos artistas locais (nos grandes palcos) e um tendência ao fim da cultura do Bloco “pago” (pelo menos pelo folião), os camarotes tomam conta, mas ao mesmo tempo as pequenas representações (troças, bloquinhos independentes e projetos pequenos) ganham espaço… seria hora da retomada da GB em um modelo mais próximo do que era antigamente ou teme o fim do carnaval?
A GB teve essa retomada nos últimos anos, mas dessa retomada pra cá, a cada ano se vê menos atrações com o instrumento nas pautas carnavalescas. Isso me assusta pois sempre fui um defensor da causa. Cheguei a realizar seis anos do projeto Trio de Guitarra Baiana se utilizando com conceito de convidar outros GBistas. Porém já são três anos sem realizar, dois deles realizei o que chamo de CarnaBlues dentro do projeto Furdunço. o projeto é Blues na Guitarra Baiana no Carnaval.
Fale um pouco de seus projetos atuais e futuros.
Atualmente tenho feito muitos shows executando standards de blues, utilizando essa estética para utilizar lap steel e variados timbres de guitarra, inclusive nossa amada baianinha. Estou finalizando um disco novo, se chamará “A música dos meus amigos” é um disco no qual gravo músicas de amigas e amigos que admiro. É um disco de folk/blues, onde toco somente as minhas cordas e em muitas faixas trago um tratamento orquestral com cordas dedilhadas, tem muito bandolim... (hahahah)
Julio Caldas (Mais do Mesmo)
O espaço é seu, pode deixar a mensagem que quiser…
A mensagem que trago é de que devemos buscar a fé, nesse momento delicado que o mundo passa. Uma transição planetári que está fazendo a humanidade andar pra trás, a onda é não deixar tudo isso tirar nosso foco, da arte, da música, do amor ao próximo, do respeito as mulheres e aos mais necessitados. Luz, paz e amor!