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Entre guitarras havaianas e baianas

Marcio Nascimento

redacao@correio24horas.com.br

05.02.2019, 14:00:00

Avanços tecnológicos frequentemente inspiram inovações na música. De fato, desde a invenção dos primeiros equipamentos elétricos os músicos perceberam a possibilidade de amplificar os sons de seus instrumentos, visando atingir audiências maiores.

A primeira patente de guitarra elétrica deve-se ao músico e inventor americano George Delmetia Beauchamp (1899-1941), publicada em 10 de agosto de 1937 (US 2,089,171), após uma espera de quase três anos de avaliação da sua inovação e funcionalidade. Também chamada de “fry-pan” ou frigideira devido ao seu formato peculiar, foi criada em 1931 toda em alumínio. Consistia de um braço metálico vinculado ao corpo da guitarra numa peça única que tinha seis cordas e era feita para tocar na posição horizontal, ao se utilizar de uma palheta especial. A música produzida é notadamente alegre, dançante e envolvente.


Tal avanço tecnológico está vinculado à descoberta do físico, químico e filósofo inglês Michael Faraday (1791-1867), que descobriu o fenômeno da indução eletromagnética cem anos antes. Se a eletricidade pode produzir magnetismo, de acordo com os experimentos do físico e químico dinamarquês Hans Christian Oersted (1777-1851) em 1820, então Faraday pensou que o magnetismo poderia produzir eletricidade. De fato, Faraday observou que a eletricidade poderia ser produzida através do magnetismo via movimento. Assim, ele percebeu que quando um ímã era movido dentro de uma bobina de um fio metálico, uma pequena corrente elétrica fluía pelo mesmo.

Dito de outra forma, a simples movimentação de um ímã próximo a uma espira (isto é, um circuito elétrico fechado) produz corrente elétrica. Quanto mais rápida a movimentação do imã, maior a corrente induzida. Faraday também demostrou que as correntes em mudança num circuito induzem correntes em um circuito vizinho.

Numa guitarra acústica, o som produzido através da vibração (movimentação) das cordas é amplificado pela caixa de ressonância (corpo da guitarra). Já numa guitarra elétrica, as extremidades das cordas estão acopladas a imãs que transformam tal vibração em sinais elétricos a partir de uma corrente induzida pelo movimento, seguindo estritamente a proposta de Faraday (num item denominado captador). Tal sinal elétrico é transformado em sinal sonoro por alto-falantes que permitem amplificar o som para grandes audiências.

A guitarra havaiana é muito diferente de uma outra importante invenção, a guitarra baiana, criada pelos brasileiros Adolpho Antônio do Nascimento (1920-1978), técnico em eletrônica, artesão e instrumentista, e Osmar Álvares Macedo (1920-1997), técnico em mecânica e músico. Além da sonoridade peculiar, a guitarra elétrica baiana não necessita ter caixa de ressonância, podendo ter qualquer formato, mostrando que Dodô e Osmar dominavam a tecnologia que desenvolviam, compreendendo perfeitamente a Lei de Faraday. Tal instrumento, de corpo de maciço, denominado “pau elétrico”, e inicialmente com quatro cordas, praticamente não gerava microfonia, e é conhecido pelas belas performances do instrumentista, cantor e compositor brasileiro Armando da Costa Macedo (n. 1953).

Não bastasse apenas a inovação da guitarra baiana, para alegrar as audiências foliãs cada vez maiores, Dodô e Osmar também inventaram o trio elétrico, desfilando seu som amplificado eletricamente em pleno carnaval de 1950. Fizeram novamente história ao tocar frevos, marchinhas, chorinhos, boleros e baiões e influenciar de modo permanente a MPB, deixando um legado de alegria, felicidade e inventividade.


Marcio Nascimento é professor da Escola Politécnica, Departamento de Engenharia Química e do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA



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