As histórias do Tio Márcio 1: MINHA PRIMEIRA VEZ EM UM TRIO ELÉTRICO
MINHA PRIMEIRA VEZ EM UM TRIO ELÉTRICO
Em meados da década de 80, tocar guitarra baiana não era essa facilidade de hoje...na época estávamos no auge da levada dos 2 acordes na guitarra convencional, e quem tocava guitarra baiana era tido como "velho" e "desatualizado", consequentemente não se tinha emprego.
Subi eu pra tocar no meu primeiro trio elétrico, um de político na Ilha de Itaparica aqui perto de Salvador, era um "showmício", e fui chamado pelo o baixista, que gostava muito de mim e que queria me ver tocar.
Subi eu, minha guitarra baiana JOG , a popular " assassina de dedos"(por ter uma escala reta com trastes rombudos), um pedal Heavy Metal da Marca "Chorus", um ampli Staner Kute 15 e um Microfone Leson pra microfonar o ampli.....sim senhor, já iniciei assim (risos), microfonando o ampli na época onde o que se tinha era ligar em linha...sobretudo em Trios elétricos meio "meia boca" que se tinham por aqui.
Já no passar do som, notava-se na cara dos outros membros da banda um ar de "oh meu Deus, guitarra baiana não", porque na verdade o instrumento tinha sido abolido da música baiana, mas era minha cachaça e eu tinha que tocar. Chega o técnico de som e diz pra mim: " Oh meu filho, ninguém mais usa ISSO, aqui se toca sucesso, frevo já foi, por que você não compra uma guitarra de gente?"....conseguir ler os lábios do baterista...que disse: " Frevo não sei tocar....nem venha com essa velharia"...e fez uma cara de poucos amigos.
Tá pensando que acabou???....o técnico de som veio me chamar de doido, por eu querer microfonar ampli, olha a bela frase: " Querido, os grandes do axé não usam assim, por que você quer usar??? Não dá, me dá seu pedal que ligo aqui na mesa, vai ficar bom".
Perdido...recorri ao amigo baixista que conseguiu convencer o técnico a fazer o que eu queria...eu já tinha um setup horroroso...ainda ligar em linha iria ficar ainda mais horroroso.
A guitarrinha Baiana, foi o meu primeiro instrumento, junto com o violão, que era do meu avô e aprendi a tocar de dedo, eu não usava palheta pra tocar guitarra baiana, ainda hoje toco assim boa parte do show...achava que dava um som diferente; Nesse dia nem palheta tinha levado e consegui tocar "Brasileirinho", "Vassourinhas" e "Rock de Caicó", que eram as músicas de guitarra baiana que tinha no repertório, eu curtia o Mark Knopfler, do Dire Straits...o jeito que eu tocava era muito igual...até o jeitinho dos 2 primeiros dedos colados com o polegar do Knopfler eu copiava rsrs.
O show correu tranquilamente, mas me senti desconfortável....porque eu era meio que um "estranho no ninho"....naquela época só algumas bandas do interior possuíam guitarra baiana, na capital só um ou outro ainda insistiam.
Ainda assim, continuei com esse grupo...fizemos alguns shows e com a vitória do tal político do Trio elétrico, novembro e dezembro vieram mais shows, com a mesma banda, o mesmo técnico, mas a cara torta deles melhoraram um pouco rsrs.
Aquela época pra a guitarra baiana era fogo e eu estava iniciando. Iniciar já sendo pressionado não era fácil...eu era de menor...toquei sem sequer ter um pedido...tava todo errado....mas feliz.....estava tocando rsrs, era o que importava.
Eu...minha JOG, o pedal Heavy Metal da "Chorus", o ampli Kute 15 da Staner e Microfone Leson....o Set Up dos Deuses do rock rsrsrrsrsrs.
Era a minha estreia.
Breve, mais historinhas.