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Papo de Artista: Márcio de Oliveira


Não há sombra de dúvidas do talento e reverencia que esse artista desperta a quem tem o menor contato que seja com ele. Diria que o Márcio tem uma áurea totalmente fundamentada na essência carismática, aquela que onde chega impõe respeito pelo simples fato de ser admirado.

Daí, me contradizendo, já relativizo o "totalmente" empregado no parágrafo anterior, pois além do carisma ele detém nas mãos uma verdadeira "arma" (do bem) de produzir arte: Técnica, timbre invejável, criatividade e o mais importante, produção; é um dos mais respeitados representantes da Guitarra Baiana na atualidade, que além de replicar os clássicos em seus mais diversos estilos, contempla o mundo com suas músicas autorais.

Acho que uma frase encontrada na rede pelo próprio artista resume minhas palavras:

“Sou uma pessoa levemente tímida, contemplativo , simples e de hábitos igualmente simples, não preciso de muito pra ser feliz, se no local tiver meus amigos, meu instrumento e um amplificador...é sorriso largo!”

(Márcio de Oliveira)

Depois do exposto acima, nada mais justo que abrirmos a seção "Papo de Artista" com o Márcio de Oliveira. Espero que curtam a entrevista concedida para o Guitabaiana.com.

Por que a escolha da guitarra baiana?


Quando comecei a tocar o principal objetivo era tocar com os senhores do choro da minha rua, eu adorava, mas ao mesmo tempo curtia rock, a guitarrinha uniu as duas coisas...eu poderia tocar o choro e poderia usar um Overdrive, faço isso até hoje nos Clubes do choro em que participo.


A que você atribui a situação de um instrumento passar de uma posição principal para praticamente o ostracismo?


A guitarrinha era a voz do trio elétrico e de um estilo musical carnavalesco de salvador, no dia que mudaram a festa, os arranjos das músicas, passando a usar teclados para ser mais comercial pro sul, a guitarrinha que era vista erroneamente como um instrumento de carnaval e de solo, caiu em desuso, e como os músicos da época não tinham requintes em base, só sabiam solar, quando pediam pra acompanhar o serviço era precário, então eles mesmos migraram para a guitarra porque era mais fácil e garantiram assim suas vagas nas bandas.

Resumindo....atribuo a preguiça dos músicos mesmo que não se prepararam.


Você ainda acredita na guitarrinha como protagonista nos palcos (não conte os projetos)?


Sim...no segmento de musica instrumental existe uma turma boa que pode dar mais visualização ao instrumento, outro dia vi a Lucy Alves, que tocou um bom tempo num show com uma guitarrinha; apesar dela não ter ainda a pegada “elétrica” se prestou a inserir o instrumento em algumas coisas, e curti.


Você é um defensor de aspectos tradicionalistas, como as quatro cordas e o famoso “menos é mais”, mas tem um som e timbre admirado por todos. O que você argumentaria para convencer um que tem a perspectiva contraria?


Já me perguntaram o porque de não usar a guitarrinha de 5, e eu volto com outra pergunta...porque que vocês usam as de 5 cordas? Rsrsr. O instrumento é um Bandolim, o mesmo possui originalmente 4 (Brescia ou Cremonese) ou 8 (napolitano, formato mais comum) cordas, então vocês é que estão “errados” rsrsrss......na verdade cada um customiza seu instrumento da forma que sente necessidade...4, 5, 6 cordas...em 1990 um luthier de Itaparica aqui perto construiu pra mim uma guitarrinha de 6 cordas...eu afinava de baixo pra cima E – A – D – G – A – E, juntei a afinação do bandolim com os bordões de guitarra convencional....mas o instrumento não ficou bom, e deixei-o de lado.

Quanto ao som eu percebi que os timbres mais belos do instrumento foram aqueles onde o músico não abusou dos efeitos....só um drive e uma ambiência...e é o que eu uso...um Drive e um delay...mais nada, vejo hoje com toda essa tecnologia alguns músicos cheios de equipamentos mas sem nada de orgânico no som como aquelas gravações do Tapajós e Novos Baianos no passado.

Fale um pouco do seu set básico e parcerias com os luthiers:


Atualmente uso instrumentos do Yuri Barreto e do Sergio Gomes Jordão, levo as duas sempre comigo, vou revezando nas apresentações.

São 2 luthiers que acreditam no meu trabalho e estão sempre conversando comigo sobre novidades, melhorias e opiniões.

Estou usando agora uma distorção da JBS PEDAIS, o Vulcão, uso ele associado a um Tape Delay da NUX quando não posso levar meu ampli.

No geral meu SET é extremamente simples: Amplificador Pedrone TITAN Single + Caixa RK com falante Eminence V128 , o Tape Delay NUX e pronto.

Na frente uso um afinador da korg, o pitchblack que além de afinar serve como “mute” para eu trocar os instrumentos sem fazer barulho.


São muitos os projetos retomando a GB e tirando ela do “circuito alternativo” (ou tentando), faça uma síntese dos que você participa:


Fiz o “Instrumental Popular” onde tocamos desde 2010 em Salvador, Itabuna, Santo Antonio de Jesus, Aracaju e Maceió, fiz também fora do país, no evento de jazz de Dusseldorf na Alemanha, na Noite Brasileira em Lisboa e Porto em Portugal, elaborei o “MandoRock” que é um show onde toco clássicos do rock na guitarrinha, fizemos apresentações em algumas cidades metropolitanas como Camaçarí e Lauro de Freitas e sempre estou ligado a algum clube do choro...antes era com o Clube do choro do recôncavo, hoje faço com o Clube do Choro de Santo Antonio de Jesus, cidade onde também resido (fico entre ela e Salvador).

Participei com o Julio Caldas dos circuitos de guitarra baiana e Trio de Guitarra Baiana; volta e meia o Julio, que é o principal incentivador do instrumento na cidade faz um convite, e um convite dele é uma ordem rsrs, grande amigo, irmão e incentivador.

Vou juntar duas perguntas: (Fábio Batanj) Qual a sua opinião em relação ao cenário de construtores atuais de guitarra baiana que nos últimos anos vem contribuindo positivamente na modernização do instrumento como a implementação de encordoamento, alavanca, captação específica, etc? (Sérgio Gomes Jordão) Márcio, o que você espera em relação a evolução das guitarras baianas, agora que um número maior de luthieres e de músicos estão aparecendo no mercado?


Hoje temos luthiers antenados e com mais primor ao construir, coisa que no passado não existia, a coisa melhorou quando a guitarrinha voltou a ser notada por conta das festividades do aniversario do trio elétrico e da utilização do nome como o tema de um dos anos do carnaval; soma-se a isso a força de músicos como Julio Caldas na criação de vários projetos e eventos em prol do instrumento o que fomentou guitarristas e curiosos a se arriscarem na guitarrinha...a rede social passou a ser determinante para a união de músicos do sul com os daqui, unindo forças e a coisa assim deu uma melhorada.


Sobre cordas...ja tínhamos disponíveis la fora, assim como captação, mas com a alta do dólar a coisa complicou; a NIG tem um jogo para a guitarrinha que divide opiniões, mas antes esse do que nenhum né?...apesar da maioria esmagadora utilizar ainda o mesmo jogo de guitarra convencional descartando uma ou 2 cordas.


Temos captadores feitos por Fabio Batanj, Sergio Gomes, Yuri Barreto em parceria com a Malagoli e Elifas Santana...todos eles muito bons.

Creio que sim, que irão surgir mais músicos ávidos pelo instrumento, incentivados inclusive pelo bom trabalho dos novos luthiers, já vi músicos comprarem guitarrinhas porque foi tão bem feita que o cara acabou se encantando rsrs....no sul a guitarrinha de 4 cordas tem uma saída satisfatória, uma vez que pode ser usada como cavaco elétrico também, inclusive já tem uma galera usando lá. No dia que algum luthier se desprender e resolver lançar pro sul guitarrinhas de 4 cordas a preços legais, vão se dar bem...milhares de bandas de samba comprariam.


(Marcus Devolder) - Quais as possibilidade em que a GB substitui a Guitarra Grande nas divisões harmônica, sem prejuízo pra música... ou seja, sem a Guitarra Grande Fazer falta?


Diferença sempre vai ter, mas aí entra o “bomgostismo” do músico, que irá saber colocar o instrumento no estilo; até metal rola....vide o doido Alex Gregory, que toca um Fender Mandocaster customizado 4 cordas num CD de metal. Eu penso que não é necessário nem substituir uma guitarra convencional por uma guitarrinha, acho que as duas se complementam, mas se só tiver a guitarrinha, que o músico ouça a música e encaixe bem o instrumento, passei quase 10 anos tocando numa banda que quando eu troquei a Guitarra pela Guitarrinha ninguém notou rsrs, ou seja....tinha conseguido fazer a mesma coisa na guitarrinha.

(Júlio Caldas) Márcio, você tem alguma critério para estudar? Como é? Critério digo metodologia de estudo?


Eu me preocupo hoje em compor, não que eu esteja 100% bem em técnica e estudo, nunca estamos, mas é que a própria coisa de se criar uma música já é um treinamento massa, o meu pensamento na guitarrinha é o mesmo na guitarra convencional, curto pentas e bends, é onde me sinto feliz, só fiz passar pro bandolim e pronto, quando eu quero estudar técnica toco uma música minha rápida ou qualquer outra coisa...o resto é fechar os olhos e deixar fluir.


(Yuri Barreto) Qual "acontecimento" te surpreenderia no universo da guitarra baiana?


Steve Vai vir tocar no carnaval com a guitarrinha que ele tem do Yuri Barreto rsrsrs


Essa pergunta é uma curiosidade pessoal (Igor Martins) e hipotética: Se existisse a possibilidade de lhe conceder a posse de um desses trios, qual você escolheria: Saborosa, Traz os montes, Caetanave, Fobica, Marajós ou outro a sua escolha?


O Saborosa...sem sobra de dúvidas porque era uma vontade de criança, foi o primeiro trio elétrico que eu vi, o primeiro que eu me encantei...inclusive a 5, 6 anos atrás estive pra resgatar o projeto do trio, mas me faltou jogo de cintura em lidar com algumas questões burocráticas, além do mais eu teria que refazer uma carroceria nova, pois o original se acabou jogado perto da estrada(acredite), gastei uma grana, não vingou, no ano seguinte o Carlinhos Brown fez um aos moldes do saborosa, o “Garrafão”, fui chamado pra ser o solista, foi meio que um premio de consolação rsrs, mas foi divertido, o Yuri Barreto Luthier também participou como técnico dos instrumentos.


Para finalizar...guitarra baiana ou café? E deixe uma mensagem para os visitantes do Guitabaiana.com:


Os 2, aliás são meus companheiros de muitas noites rsrs.

Aos que estão começando no instrumento, mantenha sempre a mente aberta, explore-o em outras vertentes, pq é aí que vc e o instrumento irá crescer, componha....tenha pelo menos 1/3 do repertorio autoral, senão... o que vc terá deixado para a posteridade??....e para os amantes do instrumento e visitantes do site...aproveitem para ter acesso a um ótimo trabalho que o Igor esta desenvolvendo, catalogando a cultura da guitarra baiana sem privilegiar uma ou outra pessoa, disponibilizando informações importantes e atualizações constantes do mundo da guitarrinha...esse site só tem a crescer.


Abraço a todos.


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